terça-feira, maio 18, 2010

Antônio Frederico.

Estou a poucas léguas de Curralinho, cidade que um dia virá a ser chamada Castro Alves. Mais precisamente: estou na comarca de Cachoeira, na freguesia de S. Pedro de Muritiba. Planura agreste, ventania a açoitar e ressecar moitas. À minha frente avisto a fazenda Cabaceiras, a senzala e a casa grande (que não é tão grande assim...). No alpendre, uma negra corpulenta embala um garotinho branco, irrequietos 4 anos. É a mucama Leopoldina ninando Secéu (assim lhe chamam os meninos da senzala e todos os familiares da casa grande, irmãos, pai e mãe). Secéu (que é o António Frederico de Castro Alves que eu demandava) escreverá mais tarde:


Era um sonho dantesco... o tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...



Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!...

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