sábado, novembro 28, 2009

DE ONTEM EM DIANTE.

De ontem em diante serei o que sou no instante agora


Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa

Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada

são coisas distintas

Separadas pelo canto de um galo velho

Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho

Do versículo e da profecia

Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?

Minha vida inteira é meu dia inteiro

Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!

Minha mochila de lanches?

É minha marmita requentada em banho Maria!

Minha mamadeira de leite em pó

É cerveja gelada na padaria

Meu banho no tanque?

É lavar carro com mangueira

E se antes, um pedaço de maçã

Hoje quero a fruta inteira

E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa

Da luta não me retiro

Me atiro do alto e que me atirem no peito

Da luta não me retiro...

Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem.

O TEATRO MÁGICO

quinta-feira, novembro 26, 2009


Não Percam!

domingo, novembro 22, 2009

O amor da minha vida eu encontrei, tem nome, é de carne e osso, e me ama também. Agora falta encontrar alguém com quem possa me relacionar. É que o homem da minha vida não cabe em mim e eu não caibo nele. Não basta que a gente se queira há muitos anos. Não basta nossos namoros longos, os rompimentos e a teimosia de desejar mais daquilo que não há de ser. Não presta que ele me visite pra acabar com as saudades e fuja correndo de pernas bambas e um bumbo no peito. Não importa que eu esqueça meu nome depois, nem que me perca num oco, ou que os sentimentos corram de ambos os lados, intensos e desarvorados. Não basta que haja amor para se viver um amor. Eu e ele somos as cruzadas da idade média, o Osama e o Tio Sam, o preto e o branco da apartheid, o falcão e o lobo, o Feitiço de Áquila. Seus mistérios me perturbam e minha clareza o ofusca. Tenho fascínio pelo plutão que ele habita, e ele vive intrigado por minha vênus, mas quando eu falo vem, ele entende vai. Enquanto ele avista o mar eu olho pra montanha. Quando um se sente em paz o outro quer a guerra. É preciso me traduzir a cada centímetro do caminho enquanto ele explica que eu também não entendi nada. Discordamos sobre o tempo, o tamanho das ondas, a cor da cadeira. O desacerto é de lascar, e não há cama que resista a tantas reconciliações - um dia a cama cai.

                                                                                                                                           Maite Proença.

terça-feira, novembro 03, 2009

segunda-feira, novembro 02, 2009


Nesta segunda-feira (02/11), dia de finados, não poderia haver data mais propícia para o lançamento do livro "A História Viva da Morada dos Mortos",

O Cemitério do Caju é considerado um dos maiores museus a céu aberto do Estado do Rio de Janeiro”, afirma o pesquisador Hélvio Cordeiro, do Instituto Historiar, responsável pelo projeto.

O objetivo do livro é o resgate cultural do costume de visitar o Caju não só no Finados para reverenciar os mortos, mas sim, para reverenciar a vida. Estamos ajudando as pessoas a descobrir a arte. Na França e na Inglaterra, os cemitérios são os pontos turísticos mais visitados durante todo o ano. As obras de artes do Caju são dignas de estar em qualquer museu do mundo, uma prova de que ele pode ser a casa dos vivos", disse o autor do livro.

O Tempo corre sem Tempo!



Há algum tempo atrás, o tempo nos permitia passar o ano inteiro esperando pelo Natal, pelas Férias, Reveillón, carnaval... tínhamos tempo para esperar e curtir a espera. Tempo de curtir uma primavera das mais bonitas a cada ano, os verões eram todos com muita chuva grossa e um calor gostoso,os invernos com cara de inverno e os outonos então... Agora alguma coisa está errada, um dos ponteiros do tempo perdeu o eixo e complicou a nossa vida.
Percebes? Mal o ano começa e ainda estamos a resolver as coisas que ficaram do ano que passou. Andamos com/sem tempo pra tudo, a correria do tempo nos conduz para uma linha de chegada que nem sabemos direito qual é, o que é, como é. Sabemos só que temos tempo pra fazer compras, ir ao banco, trabalhar, estudar, limpar a casa, arrumar a gaveta, lavar a roupa, levar os filhos, cozinhar, arrumar, pintar, construir, jantar, dormir... Uffaaa!!!
Ainda temos tempo??!!

CONFISSÃO DE CABÔCLO Zé da Luz

Seu dotô, sou criminoso. / Sou criminoso de morte. / Tou aqui pra mi intregá. / Vosmicê fique sabendo: / quando a muié traz a sorte / de atraiçoá o isposo, / só presta para se matá. Nunca pensei, seu dotô, / qui a mão nêga do distino, / merguiasse as minhas mão / no sangue dos assassino! / Vô li pidí um favô / ante de vossamercê / mi butá daqui pra fora: / é a licença do dotô / pr'eu li contá minha histora.

Sinhô dotô delegado, / digo a vossa sinhuria / qui inté onte fui casado / cum a muié qui im vida / se chamô Rosa Maria. / Faz dez mês qui se gostemo, / faz oito qui fumo noivo, / faz sete qui nós casêmo. / Nós casêmo e nós vivia / cumo pobre, é bem verdade, / mas a gente se sintia / rico de filicidade!

Pras banda qui nós morava, / no lugá Chã da Cutia, / morava tombém um cabra / chamado Chico Faria. / Esse cabra, antigamente, / tinha gostado de Rosa, / Chegaro inté a sê noivo, / mas num fizero a "introza" / do casamento, prumode / Mané Uréia de Bode, / Qui era padrim de Maria / tê dismanchado essa prosa.

Entoce, o Chico Faria, / adispois qui nós casêmo, / in cunversa, as veis dizia, / qui ainda mi dava fim / pra se casá cum Maria. / Dessa coisa eu sabia, / mas nunca dei importança. / Tinha toda cunfiança / na muié qui eu tanto amava, / ou mais mió, adorava./ Cum toda a minha sustança.

Dispois disso, o meu custume / era vivê trabaiando / sem da muié tê ciume. / A muié pru sua vez / nunca me deu cabimento / deu pensá qui ela fizesse / um dia um farcejamento. / Mas, seu dotô, tome tento, / no resto da minha histora, / qui o ruim chegô agora:

Se não me farta a mimória, / já faz assim uns três mêis, / qui o cabra, Chico Faria, / todo prosa, todo ancho, / quage sempre, mais das vêz, / avistava o meu rancho. / Puralí, discunfiado / como quem qué e não qué, / eu fui vendo qui o marvado / tentava a minha muié. Ou tentação ou engano, / eu fui vendo a coisa feia! / Pru derradêro eu já tava / C'a mosca detrás da urêia. / Os tempo foi se passando / e o meu arreceiamento / cada vez ia omentano.

Seu dotô, vá iscutano: / onte, já de tardezinha / o meu cumpade, Quinca Arruda, / mi chamô pra nós dança / num samba, lá na Varginha,/ na casa do mestre Duda. / Mestre Duda é um cabôco, / um tocadõ de premêra. / É o imboladô de côco / mió daquela rebêra. Entonce Rosa Maria, / sempre gostou de samba, / mas, porém, de tardezinha / me disse discunfiada, / qui pru samba ela não ia, / Qui tava munto infadada, / percisava se deitá. / Eu fiquei discunfiado / cum a preposta da muié! / Dispois qui tomei café, / cuage puro sem mistura, / cum a faca na cintura / fui pru samba, fui sambá. / Cheguei no samba, dotô, / repare agora, o sinhô, / quem era qui tava lá?

O cabra Chico Faria, / qui quano foi me avistando, / foi logo mi preguntando: / - cadê siá dona Maria, / num veio não, pra dançá? / - Não sinhô. Ficô im casa, / pru cabôco arrispondí. / Senti, entonce uma brasa / queimano meu coração, / nunca mais pude tirá / as palavra desse cabra / da minha maginação.


Perdí o gosto da festa / e dançá num pude não. / O cabra, pru sua vez, / num dançava, seu doutô. / De vez im quando me oiava / Cum um oiá de traidô. / Meia noite, mais ou meno, / se dispidino do povo / disse: - Adeus, qui eu já vô. / Quando ele se arritirô, / eu tombem me arritirei / atraiz dele, sim sinhô. / Ele na frente, eu atrais. / Se o cabra andava ligêro, / eu andava munto mais!

Noite iscura qui nem breu! / Nem eu avistava o cabra, / nem o cabra via eu! / Sempre andando, sempre andando, / ele na frente, eu atrais. / Já nem se iscutava mais
/ a voz do fole tocando / na casa do mestre Duda! / A noite tava mais preta / qui a cunciênça de Juda! / Sempre andando, sempre andando, / eu fui vendo, seu dotô, / qui o marvado ia tumando / direção da minha casa! / Minha casa!... Sim sinhô!

Já pertinho, no terrero, / eu mi iscundí pru detraiz / de um pé de trapiazêro. / Abaixadim, iscundido, / prendi a suspiração, / Abri os óio, os ouvido, / pra mió vê e ouvi / qual era a sua intenção. / Seu dotô, repare bem: / o cabra oiando pra traiz, / do mermo jeito qui faiz / um ladrão pra vê arguém, / num tendo visto ninguém, / na minha porta bateu! / De lá de dentro uma voiz / bem baixim arrispondeu.../ Ele entonce, cá de fora: / - Quem ta bateno sou eu! / De repente abriu-se a porta! / Aí seu dotô, nessa hora / a isperança tava morta, / tava morto o meu amô...

No iscuro uma voiz falô: / - Taqui, seu Chico, essa carta, / qui a tempo tinha iscrivido / pra mandá pra voismicê. / Pru favô num leia agora, / vá simbora, vá simbora / qui quando chegá im casa / tem munto tempo pra lê. / Quando minhas oiça ouviu, / as palavra qui Maria / dizia pru disgraçado, / eu fiquei amalucado, / fiquei quage cumo loco, / ou mio, cumo um cabôco / quando ta chêi de isprito! / Dum sarto, cumo um cabrito, / eu tava nos pés do cabra, / e sem querer dei um grito: / - Miserave! E arranquei / minha faca da cintura. / Naquela hora dotô, / eu vi o Chico Faria, / na bêra da sipurtura.

Mas o cabra teve sorte. / Sempre nessas circunstança / os home foge da morte. / Correu o cabra, dotô, / tão vexado, qui dexou / a carta caí no chão! / Dei de garrá o papé, / o portadô da traição! / Machuquei nas minha mão, / a honra, dotô, a honra / daquela farsa muié! / Dispois, oiando pra carta / tive pena, pode crer, / de num tê prindido a lê / nas letra alí iscrivida, / o qui dizia Maria / pru marvado traidô. / Tive pena, sim sinhô. / Mas, qui haverá de fazê, / se eu nunca prindí a lê?

Maria mi atraiçuô! / Essa muié qui um dia, / juêiada nos pé do artá / jurou im nome de Deus / qui inquanto tivesse vida, / havéra de mi honrá, / e mi amá cum todo amõ, / cum perdão do seu dotô./ quando eu vi a miserave / na iscurideza da noite / dos meu oio se iscondê, / sem dêxá nem sombra inté, / entrei pra dentro de casa / pra mi vingá da muié.

Dotô, qui hora minguada! / Maria tava ajuêiada, / chorando, cum as mão posta, / cumo quem faz oração. / Oiando pra eu pedia, / pelo cali, pela ostia, / pru Jesus crucificado, / pelo amo qui eu li amava, / qui num fizesse isso não.

Eu tava, dotô, eu tava / cego de raiva e paixão. / Sem dizê uma palavra, / agarrei nas suas mão, / levantei ela pra riba / e interrei inté o cabo, / o ferro da Parnaíba / pru riba do coração! / Sarvei a honra, dotô, / sarvei a honra, apois não!

Dispois qui vi a Maria / caí sem vida no chão, / vim fala cum vosmicê, / vim cunfessá o meu crime / e mi intregá a prisão. / Se osinhô num acredita / se eu sô criminoso ou não, / tá aqui a faca assassina / e o sangue nas minhas mão. / Cumo prova da traição, / tá aqui a carta, doutô. / Li peço um grande favô: / ante de vossa-sinhuria / mi mandá lá para prisão, / me lêia aqui essa carta / pr'eu sabê cumo Maria / perparava essa traição!

sábado, outubro 31, 2009

Este é um dos trechos mais bonitos do primeiro ato da peça, em que Orfeu sobressalta-se quando Eurídice lhe diz "Até, neguinho. Volto num instante".

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!